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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quaresma e Religiões de Matriz Africanas

QUARESMA E RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS




POR: BABA Leonardo Cristiane Campos



Há muito as religiões de matrizes africanas (especialmente o Candomblé) romperam com as tradições do catolicismo no Brasil. Um fato ostensivo deste dessincretismo religioso é o rompimento definitivo de muitos terreiros do culto aos orixás com o chamado LOROGUM, em seus calendários religiosos.

Devido a muitos aspectos do sincretismo afro-católico no Brasil, os orixás (deidades do panteão africano) foram cultuados em formas paralelas aos santos do catolicismo, estabelecendo assim uma forma de os escravos enganarem aos seus senhores, dizendo estarem cultuando os santos católicos às suas formas, entretanto estavam mesmo era cultuando seus deuses (orixás, n´kices, voduns etc.).

Esta prática perdurou por muito tempo ainda após a Abolição da Escravatura, até que no ano de 1984, na cidade de Salvador (Estado de Bahia), mães-de-santo famosas promoveram um movimento que repercutiu em todo o país, em prol do reconhecimento do Candomblé como religião, e não como seita, ou parte do folclore brasileiro:



Ao público e ao povo do candomblé: vinte e sete de julho passado deixamos pública nossa posição a respeito do fato de nossa religião não ser uma seita, uma prática animista primitiva. Consequentemente rejeitamos o sincretismo como fruto da nossa religião, desde que ele foi criado pela escravidão. . . Candomblé não é uma questão de opinião. É uma realidade religiosa... (CAMPOS: 2003. P.106).





Tal manifesto ficou conhecido popularmente sob o slogan: Santa Bárbara não é Iansã, que procurava demonstrar ao povo-do-santo e ao leigo em geral, que os santos do catolicismo nada tinham em comum com os orixás, n, kices ou voduns.

Ao mesmo tempo, procuraram demonstrar que o negro/afro-descendente era tão fiel a suas raízes quando realizavam seus rituais nos terreiros de Candomblé como quando iam às missas nas igrejas católicas demonstrando assim sua fé ao cristianismo e também aos seus santos.

Uma dessas rupturas sincréticas logo assumidas, por terreiros antigos da cidade de Salvador e do recôncavo baiano, foi o ato de, durante todo o período da quaresma, cobrir os igbás (fetiches que simbolizam os assentamentos dos orixás no candomblé), seguindo assim um modelo tipicamente cristão, onde as imagens católicas são cobertas de tecidos roxos em respeito ao sofrimento e à agonia da Paixão de Cristo.

Dessa forma, tocava-se o LOROGUM (rito em que os orixás se despedem dos adeptos e neófitos como se partissem para a África, retornando somente no sábado de aleluia.) e mantinham o silêncio e reduziam suas atividades religiosas em muito (apenas jogos-de-búzios, pequenos ebós [trabalhos espirituais simples] e não se iniciava yaôs [noviços] durante todo o período de quaresma).

Hoje o que se percebe na maioria dos terreiros de Candomblé, principalmente nos de nação Nagô (Ketu,Ijexá, Efon) e Gêge (Mahin ou vodun), é um dessincretismo afro-católico em detrimento de uma reafricanização dos cultos, onde sacerdotes e sacerdotisas buscam cada vez mais ritos e semelhanças com os cultos ainda praticados em África Setentrional (Nigéria, Benin etc.), ficando assim cada vez mais distantes das reminiscências do catolicismo.

Outra prática também bastante repudiada por pais e mães-de-santo, é a chamada ROMARIA. Segundo a Yalorixá Stella Azevedo (uma das mais importantes mães-de-santo da Bahia atualmente), mais conhecida como Odé kaiodê (seu urunkò africano), “uma pai ou mãe-de-santo que após os 21 dias de iniciação de seu filho-de-santo, leva-o para assistir a uma missa ou bater paó (louvar) na porta da Igreja, certamente ainda está preso aos grilhões da escravidão”.

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